Campo Grande (MS), 22 de maio de 2025
Prezados(as) consulentes,
Nesta semana, iniciei uma profunda atualização dos textos deste site, inaugurando os trabalhos com a revisão completa do conteúdo de Fonologia. Finalizei a revisão do artigo sobre encontros vocálicos (Fonologia - parte 3) e a parte 4 já está no forno. Decidi, também, criar o espaço "Carta ao Leitor", por meio da qual publicarei esta primeira carta, visto que, no auge dos meus 33 anos, guardo uma estranha atração pelo mundo analógico. Até parece que eu nasci no século milênio passado.
Oh, sim. Eu preciso escrever cartas. Escrever o quê? Por quê? Não faço a mínima ideia. Contemplo as palavras. Cada uma tem mil faces secretas. Será que eu trouxe a chave? Vamos seguir para ver aonde vamos chegar.
Comecei a ensinar português muito antes de decidir ser professor: o ano era 2007, eu tinha 16 anos, cursava o ensino médio e, num belo dia, publiquei uma série de postagens em meu blog pessoal sobre curiosidades de ortografia, pois havia acabado de descobrir que existia "xá" com "x" e estava muito empolgado com o conteúdo de parônimos e homônimos. Fiz um desafio aos leitores: listei dez palavras e perguntei qual era a palavra errada. Não me lembro dos detalhes... Só sei que, logo depois, veio o post sobre a concordância do verbo "haver" e a coisa foi indo...
Fruto dessa experiência, surgiu, em 2010, a ideia de dar dicas de português de um jeito diferente, leve e divertido. Eu mal sabia que estava vivendo a era de ouro da blogosfera brasileira e, inspirado na linguagem dos blogs de humor, criei uma série de posts com dicas de português explicando o conteúdo com imagens e frases engraçadas. Muito antes do trollface e do meme, eu usava o finado fail para contextualizar o conteúdo, criando frases, personagens e situações a partir de imagens engraçadas Hoje, claro, revisitar essas postagens antigas me dá vergonha alheia, mas tudo aquilo me proporcionava uma sensação única de realização e alegria.
A proposta era simples: "aprenda português com uma linguagem acessível, de estudante para estudante". E então criei uma nova seção dentro do meu blog, chamada Gramaticando. Isso foi há 15 anos e não existia absolutamente nada parecido com aquilo. Nem mesmo o termo "gramaticando", que hoje dá nome a várias páginas e que virou verbete de dicionário, existia direito. O Gramaticando, que era para ser somente uma seção do blog pessoal, voltado para dicas de português, ficou maior e virou o Blog do Gramaticando, que está, até hoje, no ar.
A questão é que eu também tinha o desejo de ensinar português do jeito tradicional para poder conquistar outros públicos, algo que destoaria completamente do Blog do Gramaticando. Pensando nisso, em 2014, decidi lançar a Nova Gramática On-line. E a proposta também era simples: "aprenda português de forma rápida, simples, descomplicada, objetiva". Assim nascia, há 11 anos, este site.
A primeira versão do site era, praticamente, um resumo dos tópicos principais da gramática normativa do português padrão, apresentando os objetivos de aprendizagem, os conceitos e, principalmente, exemplos ancorados nas dúvidas mais recorrentes acerca do assunto. E pronto. Direto ao ponto. Simples. Descomplicado. Objetivo. Cartesiano. Menos é mais. E foi interessante receber muitos feedbacks positivos, pois, às vezes, tudo o que alguém precisa para entender alguma coisa é apenas de uma pessoa que a ajude a ir direto ao ponto, sem enrolação. E a minha virtude era que eu ainda não era professor, nem formado em Letras. E por que isso seria uma virtude? Simples: eu compreendia o meu público, pois eu mesmo fazia parte dele. Eu estava aprendendo gramática ensinando gramática. Eu lia e relia e relia e relia aquela coisa indefinida até entender o que estava escrito ali. E aí, quando finalmente entendia, eu tinha condições de traduzir a coisa para alguém, pois já tinha conseguido traduzi-la e explicá-la para mim mesmo.
E o tempo passou... e fui me dando conta de que a minha vocação era ser professor. Não tinha jeito! Era o que estava me fazendo feliz!
Mudei completamente de carreira e recomecei minha vida do zero. Entrei na Letras, virei universitário, virei estagiário, virei professor, passei por tanta coisa, prestei novo concurso e... com a graça de Deus, cheguei até aqui.
Mas, de repente, uma década se passou! De repente... a Nova Gramática já não é mais nova. A Nova Gramática envelheceu.
Por isso, renovar é preciso.
É hora de fazer nova a Nova Gramática. É hora de alcançar novos públicos, aprofundar conteúdos, oferecer mais recursos, mas sem mudar a nossa essência, que é a de continuar sendo uma gramática didática, gratuita e acessível. Uma anti-homenagem à mercantilização do saber!
Que venha a 2ª fase da Nova Gramática On-line. Mãos à obra!
V.F.
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