Módulo I (aula 2): semivogal e ditongo


Apresentação 

Olá! Esta é a segunda aula do Módulo I: Fonologia e Tonicidade.

E hoje o seu objetivo é aprender que...

=> a vogal é a base da sílaba;

=> não existe sílaba sem vogal;

=> algumas vogais, com som de "i" e de "u", podem soar mais fracas durante a pronúncia. Essas vogais mais fracas são chamadas de semivogais;

=> como não existe sílaba com mais de uma vogal, qualquer outro som vocálico que estiver junto a uma vogal numa mesma sílaba será semivogal;

=> a semivogal é, portanto, um som vocálico mais fraco e curto que não teve força para ser vogal e formar uma sílaba sozinho, ficando junto à vogal;

=> quando houver vogal e semivogal juntas, uma ao lado da outra na mesma sílaba, teremos um ditongo;

=> o ditongo pode ser crescente (semivogal + vogal) ou decrescente (vogal + semivogal);

=> o ditongo pode ser nasal (com vogal nasal, ou seja: com parte do ar saindo pelo nariz durante a pronúncia) ou oral (com o ar saindo somente pela boca durante a pronúncia);

=> os ditongos orais podem ser abertos (com vogal de timbre aberto, como o som aberto de "é" na palavra "céu") ou fechadas (com vogal de timbre fechado, como o som fechado de "ê" em "meu"). 


         INÍCIO DO CONTEÚDO         

 

Os fonemas (que estudamos na parte I) podem ser classificados em vogais, semivogais e consoantes. Tanto vogais quanto consoantes são velhas conhecidas nossas, pois um dia fomos alfabetizados e aprendemos as letras do alfabeto. Aprendemos que as vogais são "a", "e", "i", "o", "u" e que as demais letras são chamadas de consoantes

Até aí, tudo muito lindo e bacana, mas... você já se perguntou o que, de fato, faz a vogal ser uma vogal? O que faz uma consoante ser consoante? E essa tal de semivogal, o que é? E será que existem mesmo somente cinco vogais na língua? Será? 


Vogal: a base da sílaba

Já vimos, na parte I, que a sílaba é um agrupamento de letras pronunciadas numa única emissão de voz. Por exemplo: a palavra “pato” tem duas sílabas (pa-to), já que “pa” é pronunciada numa única emissão de voz, assim como “to” (segunda sílaba).

A segunda coisa que você precisa saber é que as vogais (que aprendemos como "a, e, i, o, u") são a base da sílaba. Isso significa dizer que, na língua portuguesa, não existe sílaba sem vogal, ou seja: sílaba formada apenas por consoantes. 

Tente ler, aí onde você está e em voz alta, esta palavra: DPFRTSG. E separe as suas sílabas. 

Difícil, né? Isso acontece porque na língua portuguesa, sem sons vocálicos, não é possível criar sílabas, nem palavras pronunciáveis.  Portanto, na língua portuguesa, toda sílaba deve conter, obrigatoriamente, uma (e somente uma) vogal. E as consoantes são letras que complementam os sons das vogais, ficando ligadas à vogal da sílaba. 

Além disso, não pode haver duas ou mais vogais dentro de uma mesma sílaba. A vogal pode até estar sozinha na sílaba (como "a", em "a-zei-te"), mas jamais estará ao lado de outra vogal dentro da mesma sílaba. 

Logo, se houver, à primeira vista, mais de uma vogal na mesma sílaba (como em CAI-XA), somente a mais forte delas será considerada "vogal" (no caso, "a"). A outra (no caso, "i"), mais fraca, será a semivogal. Isso acontece porque, em termos sonoros, cada sílaba é sustentada por um som vocálico, que será o som mais forte dentro da sílaba. Os demais sons serão consoantes ou semivogais. 

 

A semivogal

Diante disso, podemos definir a semivogal como um som vocálico mais fraco e curto do que a vogal e que complementa o som dessa vogal.

Existem somente dois sons que funcionam como semivogais: “i” e “u”. Porém, a semivogal “i” também pode aparecer na pronúncia da letra “e” (como em “mãe”, que se pronuncia assim: “mãi”), enquanto que a semivogal “u” pode aparecer na pronúncia da letra “o” (como em “mágoa”, que se pronuncia assim: “mágua”) e na pronúncia da letra "l", especialmente na variante brasileira (mel=>méu; sol=>sóu; aldeia=>audeia).  Por outro lado, o som “a” sempre será vogal (não existe “a” semivogal).

Para não haver confusão com os casos em que “i” e “u” estejam funcionando como vogais, a semivogal “i” é representada por /y/, enquanto que a semivogal “u” é representada por /w/.

Exemplo 1: Na primeira sílaba da palavra CAIXA (ou seja: “cai”), temos, em tese, a presença de duas vogais: “a” e “i”. Porém somente uma delas pode ser a “verdadeira” vogal (que sustenta a sílaba), enquanto que a outra, mais fraca, será semivogal.

Nesse caso, “a” é a vogal (pois tem o som mais forte), enquanto que “i” é a semivogal (a mais fraca) e é representada como /y/. Dessa forma, representamos a sílaba “cai” assim: /kay/.  

Exemplo 2: Na segunda sílaba da palavra MÁGOA (ou seja: “goa”), temos, em tese, a presença de duas vogais: “o” e “a”. Porém somente uma delas pode ser a “verdadeira” vogal (que sustenta a sílaba), enquanto que a outra, mais fraca, será semivogal.

Nesse caso, “a” é a vogal (pois tem o som mais forte), enquanto que “o” é a semivogal (a mais fraca) e é representada como “w” (pois tem som da semivogal “u”). Dessa forma, representamos a sílaba “goa” assim: /gwa/.  

Outros exemplos de vogais (em vermelho) e semivogais (em azul)

Palavra

Vogais e semivogais

Transcrição

CASA

CA-SA

/ˈka.za/

ÁGUA

Á-GUA

/ˈa.ɡwa/

REI

REI

/ˈʀey/

MEU

MEU

/ˈmew/

CUIDADO

CUI-DA-DO

/kuy.ˈda.du/

  

Ditongo

O ditongo é o nome dado ao encontro de uma vogal com uma semivogal na mesma sílaba. Exemplos: céu, boi, pátria, pai, baixo.

Os ditongos podem ser classificados de diferentes maneiras de acordo com a forma em que são pronunciados: crescentes ou decrescentes, nasais ou orais, abertos ou fechados

Ditongo Crescente: a semivogal aparece antes da vogal. Portanto, o som “cresce” do mais fraco (semivogal) para o mais forte (vogal). Ex: água (semivogal “u” + vogal “a”).

Ditongo Decrescente: a semivogal aparece depois da vogal. Portanto, o som “decresce” do mais forte (vogal) para o mais fraco (semivogal). Ex: pai (vogal “a” + semivogal “i”).

Ditongo Oral: o som é formado com o ar saindo somente pela boca. Ex: boi.

Ditongo Nasal: o som é formado com o ar saindo tanto pela boca quanto pelo nariz. Ex: mãe.

Ditongo Aberto: o som da vogal tem timbre aberto. Ex: pai (a vogal "a" é pronunciada com "á" aberto).

Ditongo Fechado: o som da vogal tem timbre fechado. Ex: boi (a vogal "o" é pronunciada com "ô" fechado).

Na próxima aula, vamos retomar novamente o conceito de ditongo e vamos aprender o que é tritongo e o que é hiato, concluindo, assim, o conteúdo de encontros vocálicos.


        FIM DO CONTEÚDO         


 

Opção 3: continuar a leitura abaixo (aprofundamento e fichamento)
 
 
 

____________  PARTE II     A P R O F U N D A M E N T O  ____________


Definição de vogal e de consoante

Aprendemos, durante a alfabetização, que as letras do alfabeto podem ser vogais (a, e, i, o, u) ou consoantes (b, c, d, f, g, h, j...). Porém, como podemos definir, de forma oficial, o que é vogal e o que é consoante? Qual é a diferença entre uma vogal e uma  consoante?

De modo geral, as vogais são sons emitidos sem obstáculos, sendo formados com a passagem livre do ar pela boca, enquanto que as consoantes são produzidas articulando o som na boca (utilizando a língua, os dentes, os lábios). Além disso, as vogais são a base da sílaba, enquanto que as consoantes precisam de uma vogal para formarem uma sílaba.

Eu, particularmente, gosto muito da definição apresentada na Nova Gramática do Português Contemporânea, de Celso Cunha e Lindley Cintra:

1. Do ponto de vista articulatório, as vogais podem ser consideradas sons formados pela vibração das cordas vocais e modificados segundo a forma das cavidades supralaríngeas, que devem estar sempre abertas ou entreabertas à passagem do ar. Na pronúncia das consoantes, ao contrário, há sempre na cavidade bucal obstáculo à passagem da corrente expiratória.

 

2. Quanto à função silábica – outro critério de distinção – cabe salientar que, na nossa língua, as vogais são sempre centro de sílaba, ao passo que as consoantes são fonemas marginais: só aparecem na sílaba junto a uma vogal

 (CUNHA & CINTRA, 2013, p.45)

 

Identificação e classificação das vogais

As vogais não são apenas aquelas cinco que aprendemos na alfabetização (a, e, i, o, u), pois do ponto de vista fonético e fonológico, é preciso considerar as diferentes formas de pronunciar essas vogais. É preciso considerar, por exemplo, que "ê" e "é" são duas vogais diferentes, pois apresentam diferentes sons (ou seja: são fonemas distintos).

Por exemplo: nas palavras "vovô" e "vovó", a vogal "ô" não é a mesma vogal que aparece em "ó", pois temos, respectivamente, os sons [o] (fechado) e [ɔ] (aberto). Portanto, para a Fonética e Fonologia, elas são vogais diferentes.  

E isso não tem a ver, necessariamente, com o uso do acento gráfico, pois em "gostei do almoço" e "eu almoço todos os dias", a vogal "o", que aparece no meio das duas palavras "almoço", tem timbres diferentes em cada uma delas. Ou seja: mesmo tendo o mesmo desenho (sem acento), "o" e "o" são duas vogais diferentes em cada palavra, pois temos "o" com timbre fechado [o] em "gostei do almoço" e "o" com timbre aberto [ɔ] em "eu almoço todos os dias". Além disso, existe o "o" nasalizado, como em "ele põe". Esse "o" é outra vogal, representada por [õ]. 

Portanto, a letra "o" pode representar, pelo menos, três vogais/fonemas diferentes: [o], [ɔ] e [õ]. Esse foi apenas um exemplo de que existem muito mais do que apenas cinco vogais na língua.

Quanto à classificação, a NGB (Nomenclatura Gramatical Brasileira) propõe a seguinte classificação:

a) quanto à zona de articulação, as vogais podem ser anteriores, médias ou posteriores.

b) quanto ao timbre, as vogais podem ser abertas, fechadas ou reduzidas.

c) quanto ao papel das cavidades bucal e nasal, as vogais podem ser orais ou nasais.

d) quanto à intensidade, as vogais podem ser átonas ou tônicas.

Para saber mais sobre essas classificações (explicação, exemplos, detalhes e comparações entre as gramáticas de referência), leia o artigo Classificação das Vogais pela NGB e pelas gramáticas (EM BREVE). 

 

A representação da semivogal “i”

O Alfabeto Fonético Internacional representa a semivogal “i” como /j/. Porém, a representação /y/ também é comum e até mesmo mais intuitiva aos falantes, aparecendo em várias gramáticas da língua portuguesa. Por isso eu prefiro utilizar /y/ até mesmo para evitar confusão com a letra “j” (considerando o consulente que está aprendendo esse conteúdo pela primeira vez), mas as duas maneiras de representar a semivogal estão corretas.

A Moderna Gramática Portuguesa, de Evanildo Bechara, optou por /y/, enquanto que a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, utiliza [j] (entre colchetes, tratando a semivogal numa perspectiva fonética em vez de fonológica,).

Graficamente, a semivogal /y/ é representada pelas letras i (...) nos ditongos e tritongos orais, e pela letra e nos ditongos nasais.

 (BECHARA, 2019, p.72)

 

Entre as vogais e as consoantes situam-se as semivogais, que são os fonemas /i/ e /u/ quando, juntos a uma vogal, com ela forma sílaba. Foneticamente estar vogais assilábicas transcrevem-se [j] e [w].

 (CUNHA & CINTRA, 2013, p.45


Classificação de “i” e “u” quando estiverem juntos na mesma sílaba

A distinção entre vogal e semivogal é feita utilizando o critério sonoro, visto que a vogal tem um som mais forte do que a semivogal. O “a” sempre será a vogal da sílaba, de modo que “i” e “u” serão semivogais se estiverem juntos com “a” na mesma sílaba. Porém, se tivermos “i” e “u” na mesma sílaba, teremos que usar exclusivamente o critério sonoro para diferenciar a semivogal da vogal.

No verbo “VIU”, o som “i” é mais forte e distinto do que o som de “u”, portanto “i” é vogal, enquanto que “u” é a semivogal. Já no verbo “FUI”, o som “u” é mais forte e distinto que o som “i”, portanto “u” é vogal, enquanto que “i” é a semivogal.

Ao longo de minha formação, também precisei lidar com essa dúvida e observei que retirar um som  de cada vez da palavra para perceber qual é o mais forte e qual é o mais fraco é algo que pode ajudar na análise. A retirada da vogal (mais forte) provoca mais impacto e afasta mais a palavra de sua pronúncia original (ele VIU=> ele VU; eu FUI=> eu FI) do que a retirada da semivogal (ele VIU/ ele VI; eu FUI/ eu FU). Porém, essa dica é fruto da minha observação e pode não funcionar para todos os casos, necessitando de maior investigação e análise.

 

____________  PARTE III     F I C H A M E N T O  ____________

  

   A semivogal

[semivogais] são os fonemas  /i/ e /u/ átonos que se unem a uma vogal, formando com esta uma só sílaba: vai, andei, ouro, água.

 (CEGALLA, 2020, p.24)

 

[semivogais] são os fonemas  i e u, quando, ao lado de uma vogal, formam sílaba com ela. Nas palavras, por exemplo: vi-da e lu-ta, tais fonemas figuram, nas respectivas sílabas, com a função de vogal, tanto é certo que recebem o acento silábico; porém, nas palavras, por exemplo, pai e mau, esse acento recai no a (que é, então, a vogal dessas sílabas), funcionando, portanto, o i e o u com o valor de qualquer das outras consoantes. Em razão de seu caráter híbrido, o i e o u, em casos assim, recebem a denominação de semivogais.  

 (ROCHA LIMA, 2010, p.54)

 

O ditongo

DITONGO é o encontro de uma vogal e de uma semivogal, ou vice-versa, na mesma sílaba: pai, mãe, água, cárie, mágoa, rei. Sendo a vogal a base da sílaba ou o elemento silábico, é ela o som vocálico que, no ditongo, se ouve mais distintamente. Nos exemplos dados, são vogais: pai, mãe, água, cárie, mágoa, rei.

(BECHARA, 2019, p.72)

 

Ditongo é uma vogal precedida ou seguida de uma semivogal. Ambas são pronunciadas numa só emissão de voz, pertencendo, portanto, à mesma sílaba, articulando-se o mais depressa possível a menos intensa (semivogal) e com mais intensidade a vogal, por isso chamada vogal base do ditongo.

(HAUY, 2014, p.92)


REFERÊNCIAS

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39.ed. rev. e ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2019. 

CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades de língua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2012.

CUNHA, Celso; LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 6.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2013. 

HAUY, Amini Boainain. Gramática da Língua Portuguesa Padrão. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014. 

LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 48.ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2010.

Para consultar as referências gerais do site, que embasam todos os conteúdos, acesse a página Nova Gramática On-line (Referências).

 
 

21 comentários:

  1. muito bom! estava sem entender o assunto e isso me ajudou muito parabéns

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  2. gostei muito da explicação.

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  3. Excelente explicação, muito didático, obrigado.

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  4. vlw me ajudou muito.
    esta de parabens.

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  5. parabéns pelo site está me ajudando de mais com os estudos obrigado.

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  6. Muito obrigado, este site é maravilhoso

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  7. Muito bom, adorei. Obrigada!!

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  8. Gostei muito, e aprendi muito.

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  9. Ótima aula gostei muito

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