Gramática On-line: Fonologia (parte 3) – encontros vocálicos: ditongo, tritongo e hiato

 

Apresentação 

Olá! Esta é a terceira aula do roteiro de estudos sobre Fonologia. 

E hoje o seu objetivo é relembrar que...

=> a semivogal é um som vocálico mais fraco e curto do que a vogal;

=> o ditongo é o encontro de uma vogal com uma semivogal na mesma sílaba.

Além disso, o seu objetivo, hoje, também é aprender que...

=> o ditongo é um tipo de encontro vocálico, assim como o tritongo e o hiato;

=> o tritongo é o encontro de uma vogal com duas semivogais na mesma sílaba (ex: “uai”, em Pa-ra-guai);

=> o tritongo  pode ser classificado em oral ou nasal;

=> o hiato é o encontro de duas vogais em sílabas separadas (ex: “aí”, em sa-í-da).

 

INÍCIO DO CONTEÚDO

Relembrando o que é semivogal e ditongo

Estudamos, na parte II, que existem duas semivogais na língua portuguesa: /y/ (que tem o mesmo som de "i", porém mais fraco) e /w/ (que tem o mesmo som de "u", porém mais fraco). 

A questão é que, no português, nós usamos a letra "i" para representar tanto o som da vogal /i/, quanto o som da semivogal /y/. O mesmo acontece com a letra "u", que é usada para representar tanto o som da vogal /u/, quanto o som da semivogal /w/. 

Na palavra "maionese", por exemplo, o som de "i" é mais fraco do que "a", que está na mesma sílaba e se sobressai mais (mAi-o-ne-se). Logo, somente "a" é vogal. A letra "i" parece vogal, mas na realidade é a semivogal /y/ disfarçada. É como se a palavra fosse escrita assim: "mayoneze". 

O mesmo acontece com "u". Na palavra "saudade", o som de "u" é mais fraco do que a vogal "a", que está na mesma sílaba (sAu-da-de). Logo, "u" parece vogal, mas não é vogal; é a semivogal /w/ disfarçada. É como se a palavra fosse escrita assim: "sawdadi" ("w" tem som de "u", porém fraco). 

Para dificultar mais, as semivogais /y/ e /w/ também podem ser representadas pelas letras "e" e "o". Na palavra "mãe", por exemplo, a letra "e" representa a semivogal /y/. É como se a palavra fosse escrita assim: "mãy" ("y" tem som de "i" fraco). E na palavra "mão", a letra "o" representa a semivogal /w/. É como se a palavra fosse escrita assim: "mãw" ("w" tem som de "u" fraco).

Além disso, é comum, sobretudo na variante do português do Brasil, a pronúncia de palavras terminadas em "l" como "u". Esse som também é semivogal. Logo, na palavra "sol", a letra "l" representa a semivogal /w/. É como se a palavra fosse escrita assim: "sow" ("w" tem som de "u" fraco).

Portanto, uma sílaba só pode ter uma única vogal. Sempre que encontramos duas vogais na mesma sílaba de alguma palavra, na realidade somente a que tiver o som mais forte do que a outra será considerada vogal; a outra, mais fraca (coitada), será semivogal e ficará ao lado da vogal na mesma sílaba. 

E essa é uma característica marcante das semivogais: elas sempre aparecem ao lado da vogal da sílaba, formando ditongo com elas. Ou seja: o ditongo é o encontro de uma vogal com uma semivogal na mesma sílaba. 

Para concluir o entendimento sobre ditongos, vamos analisar os exemplos abaixo:

 

Exemplos de ditongo
Palavra	Ditongo	Explicação
POUCO	POUCO	na sílaba “pou”, temos o ditongo formado pela vogal “o” e semivogal “u”. Trata-se, portanto, de um ditongo decrescente (vogal+semivogal), oral e fechado (pois “o” tem timbre fechado).
ÁGUA	ÁGUA	na sílaba “gua”, temos o ditongo formado pela semivogal “u” e vogal “a”. Trata-se, portanto, de um ditongo crescente (semivogal+vogal), oral e aberto (pois “a” tem timbre aberto).
FALAM*	FALAM*	na sílaba “lam”, as letras “am” são pronunciadas como “ão” (falão). Ou seja: a letra “m” é pronunciada com o som da semivogal “o”, além de nasalizar a vogal “a”. Portanto, tratamos “am” como “ão”, ou seja: ditongo decrescente (vogal+semivogal), nasal (por casa do “a” nasalizado) e fechado.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Observação: tenha cuidado com os ditongos nasais formados com as letras “m” e “n”. Apesar de “m” e “n” serem consoantes, são pronunciadas como semivogais, além de nasalizarem a vogal anterior. Exemplos: falam (“falão”), cantam (“cantão”), sabem (“sabẽi”), hífen (hífẽi).

Finalizamos, aqui, a revisão de ditongo, que é um tipo de encontro vocálico. Além dele, são também encontros vocálicos o tritongo e o hiato, nosso próximo assunto.

 

O tritongo

O tritongo ocorre quando, dentro de uma palavra, há o encontro de uma vogal com duas semivogais. A vogal fica no meio, acompanhada pelas semivogais, da seguinte forma: semivogal + vogal + semivogal.

 

Exemplos de tritongo
Palavra	Tritongo	Explicação
URUGUAI	URUGUAI	tritongo “uai”, formado pela semivogal “u”, vogal “a” e semivogal “i”
SAGUÃO	SAGUÃO	tritongo “uão”, formado pela semivogal “u”, vogal “ã” e semivogal “o”
MÍNGUAM*	MÍNGUAM*	atenção: a terminação “uam” é pronunciada como “uão”. Portanto, trata-se de tritongo formado pela semivogal “u”, vogal “ã” e semivogal “o”
ENXÁGUEM*	ENXÁGUEM*	atenção: a terminação “uem” é pronunciada como “uẽi”. Portanto, trata-se de tritongo formado pela semivogal “u”, vogal “ã” e semivogal “i”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Observação: tenha atenção às palavras com vogais nasalizadas. Em “mínguam”, por exemplo, há tritongo na sílaba “guam”, pois a terminação “am”, apesar de ser grafada com a consoante “m”, é falada como “ão” (“minguão”).

Em termos de classificação, o tritongo pode ser classificado em:

Tritongo nasal: apresenta vogal nasalizada (ou seja: o ar sai pela boca e também pelo nariz durante a fala).

Exemplos: saguão, quão, deságuam, deságuem, enxáguem.

 

Tritongo oral: apresenta vogal oral (ou seja: ar sai somente pela boca durante a fala).

Exemplos: Uruguai, Paraguai, iguais, delinquiu, averiguei, averiguou.

 

O hiato

O hiato ocorre quando, dentro de uma palavra, há o encontro de duas vogais (em diferentes sílabas, já que cada sílaba só pode ter uma vogal).

Veja os exemplos:

Exemplos de hiato
Palavra	Hiato	Explicação
SAÍDA	SAÍDA	encontro da vogal “a” com a vogal “i” em sílabas separadas (sa-í-da)
SAÚDE	SAÚDE	encontro da vogal “a” com a vogal “u” em sílabas separadas (sa-ú-de)
CAIR	CAIR	encontro da vogal “a” com a vogal “i” em sílabas separadas (ca-ir)
PIADA	PIADA	encontro da vogal “a” com a vogal “i” em sílabas separadas (pi-a-da)
PREENCHER	PREENCHER	encontro da vogal “e” com a vogal “e” em sílabas separadas (pre-en-cher)

FIM DO CONTEÚDO

 

Opção 1: Seguir para a próxima aula - parte IV (dígrafo, dífono e encontro consonantal)

 Opção 2: voltar para a parte II (semivogal e ditongo)

 Opção 3: acessar o menu de conteúdos do roteiro Fonologia

Opção 4: continuar a leitura abaixo (aprofundamento) 

 APROFUNDAMENTO

 

 

“História” tem ditongo ou hiato?

Pergunta clássica: o correto é “his-tó-ria” (com ditongo) ou “his-tó-ri-a” (com hiato)?

E a resposta é: DEPENDE.

De acordo com a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) e levando-se em consideração as particularidades da variante do português no Brasil, “história” pode ter tanto ditongo quanto hiato. Entretanto, a tradição gramatical brasileira não esconde sua preferência em preservar o ditongo, condenando, na escrita, a separação do ditongo e a formação do hiato.

Isso acontece porque, em “história”, nós temos um ditongo crescente, que é um ditongo instável, suscetível a flutuações de pronúncia, ao contrário do ditongo decrescente, que é um ditongo estável. 

A “goiaba” e a duplicação da semivogal

A palavra “goiaba” tem ditongo decrescente (“oi”). Logo, “i” é semivogal. Portanto, é inadequado dizer que existe, em “goiaba”, o hiato “goi-a-ba”, pois "i" é semivogal (do ditongo "oi") e o hiato só pode ocorrer entre duas vogais.

Além disso, por se tratar de ditongo decrescente seguido de vogal, é possível considerar a duplicação da semivogal “i”, que é pronunciada tanto na primeira sílaba, quanto na segunda sílaba, o que nos leva a separar as sílabas da seguinte forma: “goi-ia-ba”. Nesse sentido, goiaba tem dois ditongos: “oi” (ditongo decrescente) e “ia” (ditongo crescente).

O mesmo ocorre com tritongo seguido de vogal, o que torna possível separar a palavra “uruguaio” duplicando a semivogal “i” da seguinte forma: u-ru-guai-io (tritongo + ditongo crescente).

 

 FICHAMENTO

Semivogal

Chamam-se semivogais os fonemas vocálicos /y/ e /w/ (orais ou nasais) que acompanham a vogal numa mesma sílaba. Os encontros de vogais e semivogais dão origem aos ditongos e tritongos, ao passo que o encontro de vogais dá origem aos hiatos. Graficamente, a semivogal /y/ é representada pelas letras i (cai, lei, fui, Uruguai, etc.) nos ditongos e tritongos orais, e pela letra u (pau, céu, viu, guaucá) nos ditongos e tritongos orais, e pela letra o (pão, mão, saguão, etc.) nos ditongos e tritongos nasais.

 (BECHARA, 2019, p.72)

 

[semivogais] são os fonemas i e u, quando, ao lado de uma vogal, formam sílaba com ela. (...) Em razão de seu caráter híbrido, o i e o u, em casos assim, recebem a denominação de semivogais.

 (ROCHA LIMA, 2010, p.54)

 Ditongo

DITONGO é o encontro de uma vogal e de uma semivogal, ou vice-versa, na mesma sílaba: pai, mãe, água, cárie, mágoa, rei. Sendo a vogal a base da sílaba ou o elemento silábico, é ela o som vocálico que, no ditongo, se ouve mais distintamente. Nos exemplos dados, são vogais: pai, mãe, água, cárie, mágoa, rei.

 (BECHARA, 2019, p.72)

 

[ditongo] é a unidade fônica, formada de vogal, acompanhada de i ou u em função consonantal. Por outras palavras: o encontro de vogal e semivogal, ou vice-versa.

 (ROCHA LIMA, 2010, p.57)

 Tritongo

TRITONGO é o encontro vocálico em que uma vogal se situa entre duas semivogais numa mesma sílaba.

 (BECHARA, 2019, p.74)

 

[tritongo] é a unidade fônica, formada de vogal ladeada de semivogais: quais, averiguei, delinquiu, Paraguai.

 (ROCHA LIMA, 2010, p.57)

 Hiato

[hiato] é o encontro de duas vogais pronunciadas em dois impulsos distintos, formando sílabas diferentes.

 (CEGALLA, 2010, p.27 – grifos nossos)

 

HIATO é o encontro de duas vogais em sílabas diferentes por guardarem sua individualidade fonética: saída, caatinga, moinho. Isto se dá porque a passagem da primeira para a segunda se faz mediante um movimento brusco, com interrupção da voz.

 (BECHARA, 2019, p.75 – grifos nossos)

 

Quando a uma sílaba terminada por vogal-base se seguir outra iniciada também por vogal-base, produz-se um efeito acústico especial. A este fato se denomina hiato (...)

(ROCHA LIMA, 2010, p.56 – grifos nossos)

 Comentários

Acho interessante que, na definição de hiato, as gramáticas em referência ressaltam a sonoridade das vogais (“impulsos distintos”, “movimento brusco, com interrupção da voz”, “efeito acústico especial”), visto que, no hiato, as vogais pertencem a sílabas diferentes (pois cada sílaba só pode ter uma vogal) e cada sílaba é pronunciada numa emissão de voz, uma de cada vez. Às vezes, a compreensão desse conteúdo simplesmente é afetada porque queremos aprender sobre sons, mas não prestamos atenção aos sons. Precisamos resgatar a sensibilidade sonora, estudar a Fonologia com os ouvidos e não apenas decorar conceitos.