Apresentação
Olá! Esta é a primeira aula do roteiro de estudos sobre Fonologia.
E hoje o seu objetivo é aprender que...
=> a Fonologia é a parte da gramática que estuda os sons da língua;
=> as palavras são formadas por sílabas;
=> as sílabas são partes das palavras que são pronunciadas uma de cada vez, cada uma numa única emissão de voz ("batata" tem 3 sílabas: "ba-ta-ta");
=> as sílabas, por sua vez, são formadas por sons menores e indivisíveis: são os fonemas (sons emitidos por cada letra que forma a sílaba). Ex: a sílaba “ba”, de “batata”, é formada a partir da união dos sons (fonemas) “b” e“a” (b+a=ba);
=> o fonema, portanto, é como se fosse o som de cada letra: “CASA” tem 4 letras e 4 fonemas (“KAZA”);
=> porém, existem letras que não têm som/fonema: HORTA tem 5 letras, mas 4 fonemas (“ORTA”);
=>existem letras que têm mais de um som/fonema: TÓRAX tem 5 letras, mas 6 fonemas (“TÓRAKS”). Logo, “X” é um exemplo de dífono, pois é uma letra com dois sons (X tem som de “KS”);
=> e o inverso também acontece: existem duplas de letras que se pronunciam num único som: PASSA tem 5 letras, mas 4 fonemas (pois SS são duas letras pronunciadas num único som). Logo, “SS” é um exemplo de “dígrafo”;
=> outro tipo de dígrafo ocorre quando a vogal é nasalizada por um “m” ou “n” que aparece depois dela. ANDAR tem 5 letras, mas 4 fonemas (ÃDAR), pois a letra “n” não tem som; apenas modifica o som da vogal “A” que aparece antes dele (AN = Ã). Esse dígrafo é chamado de dígrafo vocálico (pois consiste na nasalização de uma vogal).
INÍCIO DO CONTEÚDO
Fonologia
A Fonologia é uma parte da gramática que se dedica ao estudo dos sons de uma língua. Na Fonologia, analisamos o funcionamento e a organização dos sons dentro do sistema comunicativo. Esse conteúdo faz parte do currículo escolar e é cobrado em concursos e vestibulares.
Logo, o nosso objetivo é estudar o som das palavras. E o primeiro passo para isso é entender que as palavras não são faladas de uma vez só, mas sim por partes. Essas partes são chamadas de sílabas.
A sílaba
As sílabas são partes das palavras pronunciadas numa única emissão sonora. Exemplo:
a palavra “escada” é pronunciada em 3 emissões (es-ca-da), logo tem três
sílabas.
O fonema
Continuando nossa análise sobre os sons que formam as palavras, percebemos que cada sílaba é formada pelos sons das letras. Voltando ao exemplo da palavra “escada”, a primeira sílaba
(“es”) é a união do som de “e” com o som de “s” ("e+s"="es"). E o mesmo acontece com as demais sílabas.
Esses sons são chamados de fonemas, de modo que as letras são a representação gráfica desses sons (fonema). Como não é possível dividir o som de uma letra, podemos dizer que os fonemas são as menores unidades sonoras que existem dentro de uma palavra. Além disso, os fonemas são distintivos, ou seja: distinguem uma palavra de outra, pois caso se mude um fonema, muda-se a palavra completamente. Exemplo: as palavras “vaca” e “faca” se distinguem por causa da troca de um único som: “v” pelo “f”.
Definição de fonema
Sendo assim, podemos dizer que o fonema é a menor unidade sonora distintiva da
língua. É a menor unidade sonora porque não há como dividir o som de uma letra em unidades menores e é distintiva porque a troca de um único fonema muda completamente a palavra (mala e sala; pata e gata...).
Em outras palavras, o fonema representa o som de cada letra de uma palavra. Porém, é preciso estar atento, pois pode haver letra sem som (como a letra “h” em “hospital”), duas letras com um som só (como “rr”, em “carro”), um mesmo som representado por letras diferentes (“sela” e “cela”), uma letra com som de outra letra (em "escada", a letra "c" tem som de "k") e assim por diante.
Os fonemas são representados entre barras. Exemplo: a letra "c", em "escada", tem som de /k/.
Identificando os fonemas
Exemplo : A palavra CASA tem quatro letras (c,a,s,a), mas se fosse escrita exatamente da forma em que é pronunciada, seria escrita assim: KAZA. Afinal, “c” tem som de “k”, enquanto que “s” tem som de “z”.
Letra (representação gráfica) |
Fonema (representação sonora) |
C |
/K/ |
A |
/A/ |
S |
/Z/ |
A |
/A/ |
Portanto, do ponto de vista da escrita (representação gráfica), a palavra CASA tem quatro letras (c,a,s,a). E do ponto de vista fonológico, a palavra CASA tem quatro fonemas (K, A, Z, A).
Relação entre letras e fonemas
Já vimos que o fonema representa o som de uma letra. Porém, na língua portuguesa, nós não escrevemos as palavras exatamente da forma que falamos, de modo que nem sempre teremos uma quantidade igual de letras e de fonemas dentro de uma mesma palavra.
Exemplo 1: A palavra HOTEL tem cinco letras (h, o, t, e, l), mas tem quatro fonemas, visto que falamos OTÉU. Ou seja: a letra “h” não tem som e, portanto, não conta como fonema.
Exemplo 2: A palavra CARRO tem cinco letras (c, a, r, r, o), mas RR tem um único som, ou seja: um único fonema. Logo, se separarmos os fonemas, teremos o seguinte: /C/ /A/ /RR/ /U/.
O “RR” é composto por duas letras que são pronunciadas num único som. Esse fonema é representado com um "r" com letra maiúscula: /ʀ/. Logo, na transcrição fonológica, a palavra "carro" é representada assim: /ˈka.ʀu/.
E por ser um
conjunto de duas letras, porém com um único som, trata-se de um exemplo de dígrafo. Outros exemplos de dígrafo: ch, lh, nh, ss, sc, sç, xc, qu, gu.
Exemplo 3: A palavra TÁXI tem quatro letras, porém ela tem cinco fonemas (porque a pronúncia é TÁKSI). Ou seja: a letra “x”, quando pronunciada em TÁXI, tem o som de “KS”. Isso significa que uma letra pode ter mais de um fonema. Trata-se de um dífono.
Exemplo 4: A palavra ANDAR tem 5 letras,
porém 4 fonemas, pois a letra “N” apenas nasaliza a letra “a”, não contando
como fonema (ou seja: ÃDAR). Trata-se de um dígrafo vocálico. Outros exemplos: am, an, em, en, im, in, om, on, um, un.
Conclusão: o número de fonemas pode não ter relação com o número de letras. Uma palavra pode ter mais ou menos letras do que fonemas (ou então pode ter o mesmo número de letras e de fonemas). É preciso ter atenção para dígrafos (duas letras com um som), dífonos (uma letra com dois sons) e nasalizações (quando "n" ou "m" nasaliza a vogal anterior, contando).
Exemplos de palavras com o mesmo número de letras e fonemas:
Palavra |
Transcrição (simplificada) |
Transcrição (oficial) |
Quantidade |
JANELA |
/janela/ |
/ʒaˈne.la/ |
6 letras, 6 fonemas |
PATO |
/patu/ |
/ˈpa.tu/ |
4 letras, 4 fonemas |
EXAME |
/ezami/ |
/eˈza.mi/ |
5 letras, 5 fonemas |
Exemplos de palavras com dígrafo (duas letras com um fonema):
Palavra |
Transcrição (simplificada) |
Transcrição (oficial) |
Quantidade |
CHUVA |
/xuva/ |
/ˈʃu.va/ |
5 letras, 4 fonemas |
SOSSEGO |
/sosego/ |
/soˈse.ɡu/ |
7 letras, 6 fonemas |
FERRO |
/fero/ |
/ˈfɛ.ʀu/ |
5 letras, 4 fonemas |
Exemplos de palavras com dígrafo vocálico (nasalização de vogal):
Palavra |
Transcrição (simplificada) |
Transcrição (oficial) |
Quantidade |
TEMPO |
/tẽpu/ |
/ˈtẽ.pu/ |
5 letras, 4 fonemas |
CANTO |
/cãtu/ |
/ˈkɐ̃.tu/ |
5 letras, 4 fonemas |
VENTO |
/vẽtu/ |
/ˈvẽ.tu/ |
5 letras, 4 fonemas |
Exemplos de palavras com dífono (uma letra com dois fonemas):
Palavra |
Transcrição (simplificada) |
Transcrição (oficial) |
Quantidade |
TÓRAX |
/tóraks/ |
/ˈtɔ.ɾaks/ |
5 letras, 6 fonemas |
TÓXICO |
/tóksico/ |
/ˈtɔ.ksi.ku/ |
6 letras, 7 fonemas |
LÁTEX |
/láteks/ |
/ˈla.tɛks/ |
5 letras, 6 fonemas |
FIM DO CONTEÚDO
Por que este conteúdo é importante?
O estudo da Fonologia é importante porque serve de base para outros conteúdos, como acentuação, tonicidade, ortografia, ortoepia, dentre outros. Por exemplo: há regras de acentuação que exigem o conhecimento acerca de ditongo. E para saber o que é ditongo, é preciso saber o que é uma semivogal. E isso é conteúdo de Fonologia.
Por que não escrevemos do jeito que falamos? Qual a lógica de iniciar palavra com "h" se "h" não tem som? E por que uma letra pode ter tantos sons diferentes? E por que um mesmo som pode ser representado por diferentes letras?
Não escrevemos “otel” (em vez de hotel), “iskada” (em vez de escada), “caxorro” (em vez de “cachorro”) e tantos outros exemplos porque o nosso sistema ortográfico não utiliza somente o critério de pronúncia, mas também o critério etimológico, ou seja: considera a origem das palavras. As línguas estão em constante evolução e a pronúncia das palavras muda, mas a grafia, por muitas vezes, acaba permanecendo, guardando vínculos com a grafia original.
A origem etimológica da palavra "hotel", por exemplo, remonta ao latim "hospes", que significa "aquele que é recebido". Através do francês "hostel" e depois "hôtel", chegou ao português com o significado de "local de hospedagem". No latim, o “h” era pronunciado. Com o passar do tempo, deixou de ser pronunciado, mas o “h” inicial permaneceu.
Curiosidade: “hospes” também deu origem às palavras “hospital” e “hospício”. Ou seja: tanto “hotel” quanto “hospital” e “hospício” têm a mesma origem etimológica (“aquele que é recebido”) e, por isso, preservam o “h” inicial (que era pronunciado no latim).
Como vou identificar os fonemas de uma palavra se as pessoas podem falar de um jeito diferente?
A Fonologia não leva em consideração a forma de falar das pessoas, pois o fonema é a representação "teórica" de um som, somente no papel (como se fosse a "imagem" de um som). A partir do momento em que alguém fala uma palavra, os fonemas passam a ser chamados de fones ou alofones (variações do mesmo fonema), passando a ser representados entre colchetes [ ] para indicar a transcrição de uma palavra falada por uma pessoa específica. Quem estuda o som real e concreto, falado pelas pessoas e considerando suas variações, não é a Fonologia, mas sim é a Fonética.
Na Fonética, estudamos os sons da fala, analisando como cada som é produzido, articulado na boca, transmitido e recebido pelos ouvintes. Portanto, a Fonética descreve o som real, falado pelas pessoas. Esse conteúdo é estudado com mais detalhes no ensino superior (como nas faculdades de Letras, por exemplo). Por outro lado, a Fonologia está interessada no estudo do som como um sistema linguístico, ou seja: estuda a organização do som e suas funções dentro da língua.
Como fazer a transcrição fonológica?
Fazer a transcrição fonológica significa descrever, de forma oficial, os fonemas de uma palavra para que qualquer pessoa no mundo (falante de português ou não) seja capaz de ler e pronunciar a palavra. Para tanto, são utilizados os símbolos do Alfabeto Fonético Internacional para indicar cada um dos fonemas da palavra. Além disso, as sílabas são separadas por pontos, sendo que a sílaba tônica (a mais forte da palavra) é sinalizada com um apóstrofo (') que aparece antes dela. Exemplos:
CASA: /ˈka.zɐ/
DICIONÁRIO: /di.sio.ˈna.ɾiu/
FICHAMENTO
O Fonema
Fonemas são as menores unidades sonoras da fala. São os sons elementares e distintivos que, articulados e combinados, formam as sílabas, os vocábulos e a teia da frase, na comunicação oral. Funcionam como elementos distintivos ou diferenciadores das palavras, porque são capazes de diferenciar umas de outras. (...) Quando proferimos a palavra aflito, por exemplo, emitimos três sílabas e seis fonemas: a-fli-to. Percebemos que numa sílaba pode haver um ou mais fonemas.
(CEGALLA, 2020, p.21)
O fonema é uma unidade que possui valor contrastivo e é, portanto, capaz de distinguir significado. Para verificarmos o valor contrastivo de um segmento, utilizamos o princípio da comutação, que consiste na comparação entre pares mínimos, isto é, duas palavras da língua que diferem em seu significado apenas por um segmento. Se tomarmos como exemplo um par mínimo do português como pato e bato, podemos observar que a simples substituição do elemento inicial resulta em mudança de significado e consequentemente na configuração de uma nova palavra. Esses exemplos permitem-nos observar claramente o valor contrastivo das consoantes /p/ e /b/, as quais, ao serem substituídas uma pela outra, geram novos itens lexicais. Por meio da comutação dessas consoantes, podemos concluir, então, que /p/ e /b/, mais do que simples unidades de sons do português, representam fonemas da língua.
(MIRANDA, 2014)
Chamam-se fonemas as unidades combinatórias que pertencem ao sistema de sons de uma língua, dotados de valor distintivo (...) Os fonemas de uma língua caracterizam-se por estar em oposição fonológica pertinente ou distintiva. Este é o caso, por exemplo, da oposição entre /a/ e /i/ em português: o /a/ tônico de fala não pode ser trocado pela vogal /i/, pois da troca resultaria outra palavra, fila.
(BECHARA, 2019, p.60)
Transcrição fonética e fonológica
Para simbolizar na escrita a pronúncia real de um som usa-se um alfabeto especial, o ALFABETO FONÉTICO. Os sinais fonéticos são colocados entre colchetes: [ ]. Por exemplo: [‘kaw], pronúncia popular carioca, [‘kal], pronúncia portuguesa normal e brasileira do Rio Grande do Sul, para a palavra sempre escrita cal. Os fonemas transcrevem-se entre barras oblíquas: / /. Por exemplo: o fonema /s/ pode ser representado ortograficamente por s, como em saco; por ss, como em osso; por c, como em cera; por ç, como em poço; por x, como em próximo.
(CUNHA & CINTRA, 2014, p.42)
A sílaba
Sílaba é um fonema ou grupo de fonemas emitidos num só impulso da voz (impulso expiratório). Na palavra azeite, por exemplo, há três sílabas: a-zei-te.
(CEGALLA, 2020, p.16)
Quando pronunciamos lentamente uma palavra, sentimos que não o fazemos separando um som de outro, mas dividindo a palavra em pequenos segmentos fônicos (...) Assim, uma palavra como alegrou, não será por nós emitida como a-l-e-g-r-o-u, mas sim: a-le-grou. A cada vogal ou grupo de sons pronunciados numa só expiração damos o nome de SÍLABA.
(CUNHA & CINTRA, 2014, p.66)
Fonética e Fonologia
A disciplina que estuda os sons da fala, em sua natureza física e fisiolófica, denomina-se FONÉTICA. A parte da gramática que estuda os fonemas, isto é, aqueles conjuntos de traços fônicos com que numa língua se distinguem vocábulos de significação diferente, chama-se FONOLOGIA (ou FONÊMICA). Estes dois ramos da ciência linguística não se opõem: antes se coordenam e completam. Porque somente com apoio numa boa descrição fonética é possível depreender-se, com segurança, o quadro dos fonemas de uma língua.
(ROCHA LIMA, 2010, p.45)
A fonética estuda a substância, a materialidade dos sons vocais. Ela é uma parte da fisiologia ou da física acústica, não se ocupando, portanto, da função linguística ou comunicativa dos sons. O estudo da função linguística, isto é, da estruturação dos sons da fala em um sistema de relações opositivas e combinatórias para a constituição dos signos de uma língua compete à fonologia.
(AZEREDO, 2021, p.410)
REFERÊNCIAS
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 5.ed. revista. São Paulo: Parábola, 2021.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39.ed. rev. e ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2019.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades de língua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro:
Lexikon, 2012.
CUNHA, Celso; LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 6.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2013.
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 48.ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2010.
MIRANDA, Ana Ruth Moresco. Fonologia. In: Glossário CEALE – Termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Disponível em: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/fonologia Acesso em 18 MAIO 2025
Para consultar as referências gerais do site, que embasam todos os conteúdos, acesse a página Nova Gramática On-line (Referências).
Melhor site de lição de casa
ResponderExcluirMUITO BOA A EXPLICAÇÃO SOBRE FONEMA, SIMPLES E OBJETIVA.
ResponderExcluirExcelente explicação.
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa em criar esse blog, fica muito fácil de estudar.
ResponderExcluirExcelentes conteúdos.
ResponderExcluirSite magnífico, o mantedor deveria continuar atualizando-o.
ResponderExcluirÓtimo!
ResponderExcluirTop demais agradeço
ResponderExcluirExcelente, explicações objetivas e práticas.
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