FONOLOGIA
A Fonologia é uma parte da gramática que se dedica ao estudo dos sons de uma língua, tendo como foco o funcionamento e a organização dos sons dentro do sistema comunicativo. É exatamente isso que iremos estudar aqui.Sendo assim, a Fonologia não pode ser confundida com Fonética, outra parte da gramática que também estuda os sons da língua, porém focada na produção, transmissão e recepção dos sons da fala humana, considerando seus aspectos físicos e fisiológicos (aparelho fonador, zonas de articulação etc).
A SÍLABA
As palavras não são faladas de uma vez só, mas sim por partes menores chamadas sílabas. As sílabas são, portanto, os "pedaços" de uma palavra que são pronunciadas numa única emissão sonora, uma de cada vez. Como por exemplo: a palavra ESCADA é pronunciada em 3 emissões (ES-CA-DA). Logo, "es-ca-da" tem três sílabas.O FONEMA
Dentro de cada sílaba existem sons menores ainda: são os fonemas. O fonema é, portanto, a menor unidade sonora que existe dentro de uma palavra. Assim, a palavra ESCADA, por exemplo, apresenta 6 letras (E, S, C, A, D, A) e 6 fonemas (E, S, K, A, D, A). Note que a letra “C” tem som de “K”. Logo, a letra C representa, graficamente, o fonema /K/.Essa é a diferença entre letra e fonema: a letra é a representação gráfica (visual) e o fonema é o som.
RELAÇÃO ENTRE LETRA E FONEMA
O fonema, de modo geral, representa o som de uma letra de uma palavra. Porém, é preciso ter atenção, pois pode haver letra sem som (como a letra “h” em “hospital”), duas letras com um som só (como “rr”, em “carro”), um mesmo som representado por letras diferentes (“sela” e “cela”), uma letra com som de outra letra (já vimos que em "escada", a letra "c" tem som de "k") e assim por diante. São muitas as possibilidades!
Como foi possível perceber, nós não escrevemos as palavras exatamente da forma que falamos, de modo que nem sempre teremos uma quantidade igual de letras e de fonemas dentro de uma mesma palavra.
Exemplo 1: A palavra HOTEL tem cinco letras (h, o, t, e, l), mas tem quatro fonemas, visto que falamos OTÉU. Ou seja: a letra “h” não tem som e, portanto, não conta como fonema.
Exemplo 2: A palavra CARRO tem cinco letras (c, a, r, r, o), mas quatro fonemas, pois "rr" conta como um único som, ou seja: um único fonema. Logo, se separarmos os sons, contaremos quatro fonemas :
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   1  | 
  
   2  | 
  
   3  | 
  
   4  | 
 
| 
   C  | 
  
   A  | 
  
   RR  | 
  
   O  | 
 
Por ser um
conjunto de duas letras, porém com um único som, "rr" é um exemplo de dígrafo. Outros exemplos de dígrafo: ch, lh, nh, ss, sc, sç, xc, qu, gu. 
Exemplo 3: A palavra TÁXI tem quatro letras, porém ela tem cinco fonemas (porque a pronúncia é TÁKSI). Ou seja: a letra “x”, quando pronunciada em TÁXI, tem o som de “KS”. Isso significa que uma letra pode ter mais de um fonema. Trata-se de um dífono.
Exemplo 4: A palavra ANDAR tem 5 letras,
porém 4 fonemas, pois a letra “N” apenas nasaliza a letra “a”, não contando
como fonema (ou seja: ÃDAR). Trata-se de um dígrafo vocálico. Outros exemplos: am, an, em, en, im, in, om, on, um, un.  
Conclusão: o número de fonemas pode não ter relação com o número de letras. Uma palavra pode ter mais ou menos letras do que fonemas (ou então pode ter o mesmo número de letras e de fonemas). É preciso ter atenção para dígrafos (duas letras com um som), dífonos (uma letra com dois sons) e nasalizações (quando "n" ou "m" nasaliza a vogal anterior, contando).
Exemplos de palavras com o mesmo número de letras e fonemas:
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   Palavra  | 
  
   Transcrição (simplificada)  | 
  
   Transcrição (oficial)  | 
  
   Quantidade  | 
 
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   JANELA  | 
  
   /janela/  | 
  
   /ʒaˈne.la/  | 
  
   6 letras, 6 fonemas  | 
 
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   PATO  | 
  
   /patu/  | 
  
   /ˈpa.tu/  | 
  
   4 letras, 4 fonemas  | 
 
| 
   EXAME  | 
  
   /ezami/  | 
  
   /eˈza.mi/  | 
  
   5 letras, 5 fonemas  | 
 
Exemplos de palavras com dígrafo (duas letras com um fonema):
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   Palavra  | 
  
   Transcrição (simplificada)  | 
  
   Transcrição (oficial)  | 
  
   Quantidade  | 
 
| 
   CHUVA  | 
  
   /xuva/  | 
  
   /ˈʃu.va/  | 
  
   5 letras, 4 fonemas  | 
 
| 
   SOSSEGO  | 
  
   /sosego/  | 
  
   /soˈse.ɡu/  | 
  
   7 letras, 6 fonemas  | 
 
| 
   FERRO  | 
  
   /fero/  | 
  
   /ˈfɛ.ʀu/  | 
  
   5 letras, 4 fonemas  | 
 
Exemplos de palavras com dígrafo vocálico (nasalização de vogal):
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   Palavra  | 
  
   Transcrição (simplificada)  | 
  
   Transcrição (oficial)  | 
  
   Quantidade  | 
 
| 
   TEMPO  | 
  
   /tẽpu/  | 
  
   /ˈtẽ.pu/  | 
  
   5 letras, 4 fonemas  | 
 
| 
   CANTO  | 
  
   /cãtu/  | 
  
   /ˈkɐ̃.tu/  | 
  
   5 letras, 4 fonemas  | 
 
| 
   VENTO  | 
  
   /vẽtu/  | 
  
   /ˈvẽ.tu/  | 
  
   5 letras, 4 fonemas  | 
 
Exemplos de palavras com dífono (uma letra com dois fonemas):
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   Palavra  | 
  
   Transcrição (simplificada)  | 
  
   Transcrição (oficial)  | 
  
   Quantidade  | 
 
| 
   TÓRAX  | 
  
   /tóraks/  | 
  
   /ˈtɔ.ɾaks/  | 
  
   5 letras, 6 fonemas  | 
 
| 
   TÓXICO  | 
  
   /tóksico/  | 
  
   /ˈtɔ.ksi.ku/  | 
  
   6 letras, 7 fonemas  | 
 
| 
   LÁTEX  | 
  
   /láteks/  | 
  
   /ˈla.tɛks/  | 
  
   5 letras, 6 fonemas  | 
 
   
FIM DO CONTEÚDO
____________ PARTE II A P R O F U N D A M E N T O ____________
Por que este conteúdo é importante?
O estudo da Fonologia é importante porque serve de base para outros conteúdos, como acentuação, tonicidade, ortografia, ortoepia, dentre outros. Por exemplo: há regras de acentuação que exigem o conhecimento acerca de ditongo. E para saber o que é ditongo, é preciso saber o que é uma semivogal. E isso é conteúdo de Fonologia.  
Por que não escrevemos do jeito que falamos? Qual a lógica de iniciar palavra com "h" se "h" não tem som? E por que uma letra pode ter tantos sons diferentes? E por que um mesmo som pode ser representado por diferentes letras?
Não escrevemos “otel” (em vez de hotel), “iskada” (em vez de escada), “caxorro” (em vez de “cachorro”) e tantos outros exemplos porque o nosso sistema ortográfico não utiliza somente o critério de pronúncia, mas também o critério etimológico, ou seja: considera a origem das palavras. As línguas estão em constante evolução e a pronúncia das palavras muda, mas a grafia, por muitas vezes, acaba permanecendo, guardando vínculos com a grafia original.
A origem etimológica da palavra "hotel", por exemplo, remonta ao latim "hospes", que significa "aquele que é recebido". Através do francês "hostel" e depois "hôtel", chegou ao português com o significado de "local de hospedagem". No latim, o “h” era pronunciado. Com o passar do tempo, deixou de ser pronunciado, mas o “h” inicial permaneceu.
Curiosidade: “hospes” também deu origem às palavras “hospital” e “hospício”. Ou seja: tanto “hotel” quanto “hospital” e “hospício” têm a mesma origem etimológica (“aquele que é recebido”) e, por isso, preservam o “h” inicial (que era pronunciado no latim).
Como vou identificar os fonemas de uma palavra se as pessoas podem falar de um jeito diferente?
A Fonologia não leva em consideração a forma de falar das pessoas, pois o fonema é a representação "teórica" de um som, somente no papel (como se fosse a "imagem" de um som). A partir do momento em que alguém fala uma palavra, os fonemas passam a ser chamados de fones ou alofones (variações do mesmo fonema), passando a ser representados entre colchetes [  ] para indicar a transcrição de uma palavra falada por uma pessoa específica.  Quem estuda o som real e concreto, falado pelas pessoas e considerando suas variações, não é a Fonologia, mas sim é a Fonética. 
Na Fonética, estudamos os sons da fala, analisando como cada som é produzido, articulado na boca, transmitido e recebido pelos ouvintes. Portanto, a Fonética descreve o som real, falado pelas pessoas. Esse conteúdo é estudado com mais detalhes no ensino superior (como nas faculdades de Letras, por exemplo). Por outro lado, a Fonologia está interessada no estudo do som como um sistema linguístico, ou seja: estuda a organização do som e suas funções dentro da língua.
Como fazer a transcrição fonológica?
Fazer a transcrição fonológica significa descrever, de forma oficial, os fonemas de uma palavra para que qualquer pessoa no mundo (falante de português ou não) seja capaz de ler e pronunciar a palavra. Para tanto, são utilizados os símbolos do Alfabeto Fonético Internacional para indicar cada um dos fonemas da palavra. Além disso, as sílabas são separadas por pontos, sendo que a sílaba tônica (a mais forte da palavra) é sinalizada com um apóstrofo (') que aparece antes dela. Exemplos:
CASA: /ˈka.zɐ/
DICIONÁRIO: /di.sio.ˈna.ɾiu/
____________ R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S ____________
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39.ed. rev. e ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2019.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionário de dificuldades de língua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: 
Lexikon, 2012. 
CUNHA, Celso; LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 6.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2013.
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 48.ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2010.
MIRANDA, Ana Ruth Moresco. Fonologia. In: Glossário CEALE – Termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Disponível em: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/fonologia Acesso em 18 MAIO 2025
Para consultar as referências gerais do site, que embasam todos os conteúdos, acesse a página Nova Gramática On-line (Referências).
obrigado pelo material disponibilizado.
ResponderExcluirMelhor site de lição de casa
ResponderExcluirMUITO BOA A EXPLICAÇÃO SOBRE FONEMA, SIMPLES E OBJETIVA.
ResponderExcluirExcelente explicação.
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa em criar esse blog, fica muito fácil de estudar.
ResponderExcluirExcelentes conteúdos.
ResponderExcluirSite magnífico, o mantedor deveria continuar atualizando-o.
ResponderExcluirÓtimo!
ResponderExcluirTop demais agradeço
ResponderExcluirExcelente, explicações objetivas e práticas.
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