Olá!
Esta é a quinta aula do Módulo I – Fonologia, Tonicidade e Acentuação.
E o objetivo de hoje é entender, de forma prática, como podemos utilizar tudo o que aprendemos até aqui para identificar e contar os fonemas das palavras.
INÍCIO DO CONTEÚDO
Contagem de fonemas
Já estudamos que a letra é a representação gráfica de um fonema (som). Logo, CASA tem quatro letras (“CASA”), que representam quatro fonemas, ou seja: quatro sons (“KAZA”). A letra “C” tem som de “K”, a letra “S” tem som de “Z” e a letra “A” tem som do próprio “A” mesmo.
Porém, na língua portuguesa, nem sempre teremos a correspondência exata entre letras e sons, ou seja: nem sempre as palavras terão a mesma quantidade de letras e de fonemas. Às vezes, uma palavra pode ter mais fonemas do que letras, ou então menos.
E para não cair em pegadinhas, você precisa ter em mente quais são os fenômenos linguísticos que provocam essa discrepância entre a quantidade de letras e de sons nas palavras.
1) Cuidado com letra sem som
Na língua portuguesa, a letra “h” em início de palavra não tem som (fonema). Portanto, falamos HOTEL como “OTEU” (5 letras, 4 fonemas); HOSPITAL como “OSPITAU” (8 letras, 7 fonemas); HÁBITO como “ABITU” (6 letras, 5 fonemas) e assim por diante.
Lembre-se de que estamos falando, especificamente, da língua portuguesa. Com palavras estrangeiras, a letra “h” geralmente tem som de “r”. Exemplos: HALL (“RAU”), HACKER (“RÁKER”), HOBBY (“RÓBI”) e por aí vai.
2) Cuidado quando dois sons são representados por apenas uma letra (dífono)
Outro caso que requer atenção é o dífono, que ocorre quando a letra “X” tem som de “KS”. Por se tratar de uma letra com dois fonemas, é preciso ter atenção na contagem total de fonemas: falamos TÓRAX como “TÓRAKS” (5 letras, 6 fonemas); TÁXI como “TÁKSI” (4 letras, 5 fonemas); TÓXICO como “TÓKSIKO” (6 letras, 7 fonemas).
3) Tenha cuidado com dígrafos consonantais
Certos sons da língua não são representados por nenhuma letra específica do alfabeto. Assim, na escrita, representamos esses sons específicos por meio da combinação de duas letras, que são lidas juntas, como se fossem um único som. Elas formam dígrafos.
Os dígrafos consonantais ocorrem quando duas letras (consoantes) são pronunciadas num único som. Portanto, contamos as letras do dígrafo como um fonema só (em vez de dois).
Exemplos de dígrafos consonantais |
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Dígrafo |
Símbolo |
Exemplo |
Letras X Fonemas |
ch |
[ ʃ ] |
CHAPÉU |
6 letras, 5 fonemas |
lh |
[ ʎ ] |
PALHA |
5 letras, 4 fonemas |
nh |
[ ɲ ] |
GALINHA |
7 letras, 6 fonemas |
rr |
[ ʀ ] |
ERRADO |
6 letras, 5 fonemas |
ss |
[ s ] |
PÁSSARO |
7 letras, 6 fonemas |
sc |
PISCINA |
7 letras, 6 fonemas |
|
sç |
RENASÇO |
7 letras, 6 fonemas |
|
xc |
EXCEÇÃO |
7 letras, 6 fonemas |
|
gu |
[ ɡ ] |
FOGUEIRA |
8 letras, 7 fonemas |
qu |
[ k ] |
AQUELE |
6 letras, 5 fonemas |
4) Não confunda dígrafos consonantais com ditongos
Cuidado com a pegadinha! É preciso ter uma atenção especial com os dígrafos “gu” e “qu”: quando o “u” for pronunciado, eles serão ditongos. Caso contrário, serão dígrafos (duas letras, um fonema).
“QU” - DÍGRAFO X DITONGO |
||
Exemplo |
Classificação |
Observação |
QUEDA |
dígrafo |
A palavra “queda” tem 5 letras e 6 fonemas. Explicação: “qu” é dígrafo, pois “qu” tem somente um som (“keda”). A letra “u” não e pronunciada (não falamos “kueda”, mas sim “keda”) |
QUATRO |
ditongo |
A palavra “quatro” tem 6 letras e 6 fonemas. Explicação: “qu” não é dígrafo, pois a letra “u” é pronunciada na fala (“kuatro”), formando o ditongo “ua”. |
“GU” - DÍGRAFO X DITONGO |
||
Exemplo |
Classificação |
Observação |
FOGUETE |
dígrafo |
A palavra “foguete” tem 7 letras e 6 fonemas. Explicação: “gu” é dígrafo, pois tem somente um som. A letra “u” não e pronunciada. |
ÁGUA |
ditongo |
A palavra “água” tem 4 letras e 4 fonemas. Explicação: “gu” não é dígrafo, pois a letra “u” é pronunciada na fala, formando o ditongo “ua”. |
5) Tenha cuidado com dígrafos vocálicos
Outra ocorrência que impacta a contagem de fonemas diz respeito aos dígrafos vocálicos (“am”, “an”, “em”, “en”, “im”, “in”, “om”, “on”, “um,” “un”). Nesses casos, uma vogal é nasalizada por “m” ou “n” que vem logo depois dela, formando apenas um fonema.
É por isso que CAMPO tem 5 letras, porém 4 fonemas, pois “AM” representa um único fonema (“Ô) resultante da nasalização da vogal (“CÃPO”).
Exemplos de dígrafos vocálicos |
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Dígrafo |
Símbolo |
Exemplo |
Letras e fonemas |
am |
[ ɐ̃ ] |
CAMPO |
5 letras, 4 fonemas (cãpo) |
an |
CANTO |
5 letras, 4 fonemas (cãto) |
|
em |
[ ẽ ] |
LEMBRAR |
7 letras, 6 fonemas (lẽbrar) |
en |
LENTO |
5 letras, 4 fonemas (lẽto) |
|
im |
[ ĩ ] |
SIMPLES |
7 letras, 6 fonemas (sĩples) |
in |
INCRÍVEL |
8 letras, 7 fonemas (ĩcríveu) |
|
om |
[ õ ] |
COMBUSTÍVEL |
11 letras, 10 fonemas (cõbustíveu) |
on |
FRONTEIRA |
9 letras, 8 fonemas (frõteira) |
|
um |
[ ũ ] |
ZUMBIDO |
7 letras, 6 fonemas (zũbidu) |
um |
PROFUNDO |
8 letras, 7 fonemas (profũdu) |
6) Não faça confusão com dígrafos vocálicos
Tome cuidado! O dígrafo vocálico ocorre quando a letra “m” ou “n” nasaliza a vogal anterior, formando um só fonema. Se “m” ou “n” formarem nova sílaba, então não teremos dígrafo vocálico.
Exemplo: na palavra CANO, o “n” forma uma nova sílaba com a vogal que vem depois dele, sendo pronunciado nessa nova sílaba (CA-NO). Portanto, temos 4 letras e 4 fonemas, já que “an”, nesse caso, não é dígrafo vocálico. Entretanto, temos uma situação diferente em CANTO: aqui, o “n” não forma sílaba e está sendo usado somente para nasalizar a vogal anterior (CÃTO). Logo, em CANTO, temos 5 letras e 4 fonemas.
7) Cuidado com ditongos nasais
Tome cuidado! Nos ditongos nasais “em” e “am”, a semivogal não aparece na escrita (somente na pronúncia). Portanto, na palavra FALAM, a terminação “am” é um ditongo nasal que corresponde a “ão” (FALÃO). Portanto, temos 5 letras e 5 fonemas.
Para melhorar a compreensão das dicas 5, 6 e 7, leia, com atenção, os exemplos abaixo:
CONTAGEM DE FONEMA – “AM” |
|
Exemplo |
Observação |
AMÉRICA |
nesse caso, “am” não é ditongo nem dígrafo. O fonema “m” forma a sílaba “me”, sendo pronunciado normalmente. Logo, a palavra tem 7 letras (“AMÉRICA”) e 7 fonemas (“AMÉRIKA”).
|
SAMBA
|
nesse caso, “am” é dígrafo vocálico, sendo pronunciado como “ã”, ou seja: não pronunciamos o som de “m”, que está ali somente para nasalizar o som da vogal“a”. Logo, a palavra tem 5 letras (SAMBA) e 4 fonemas (“SÃBA”). |
LUTAM |
nesse caso, “am”, em final de palavra, é pronunciada como “ão” (ditongo nasal). Portanto, a palavra tem 5 letras (“LUTAM”) e 5 fonemas (“LUTÃO”) |
FIM DO CONTEÚDO
Opção 1: Seguir para a próxima aula - parte VI (sílaba e tonicidade)
Opção 2: voltar para a aula anterior - parte IV (dígrafo, dífono e encontro consonantal)
Opção 3: continuar a leitura abaixo (aprofundamento)
____________ PARTE II A P R O F U N D A M E N T O ____________
A pronúncia interfere na contagem de fonemas?
O fonema, na realidade, representa uma “pronúncia artificial” (“imagem acústica”) da palavra, desconsiderando sotaques e variações linguísticas. Ou seja: mesmo que uma palavra seja pronunciada por diferentes pessoas com diferentes sotaques, a palavra continua sendo a mesma. Portanto, se uma pessoa fala “LEITE” e outra fala “LEITI”, a palavra continua sendo a mesma (“leite”), ou seja: continua tendo 5 fonemas.
É como se os fonemas fossem uma partitura musical: alguém escreve uma música utilizando a linguagem universal das notas musicais (que seriam, nessa comparação, os fonemas) e então qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo pode tocar essa mesma música com diferentes instrumentos (violão, flauta, guitarra, piano etc). A música vai soar de acordo com cada instrumento, mas continuará sendo a mesma música.
Quem estuda o som considerando os sotaques e as variações não é a Fonologia, mas sim é a Fonética. E na Fonética, utilizamos outro sistema de representação sonora: os fones e os alofones... mas isso é assunto de outro conteúdo que não vamos estudar agora.
____________ R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S ____________
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39.ed. rev. e ampl. atual. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2019.
CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática da Língua Portuguesa. 48.ed. Companhia Editora Nacional, 2020.
CUNHA, Celso; LINDLEY, Cintra. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 6.ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2013.
LIMA, Rocha. Gramática normativa da língua portuguesa. 48.ed. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2010.
Para consultar as referências gerais do site, que embasam todos os conteúdos, acessar a página Nova Gramática On-line (Referências).
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